Durante anos ouviu-se que os cartões com chip acabaram com a maioria das fraudes por clonagem. O skimming — a cópia da tarja magnética — parecia estar a ficar para trás. Contudo, os criminosos adaptaram-se: surgiu o shimming, uma técnica capaz de interceptar dados diretamente do chip. É discreta, difícil de detetar e tem vindo a aumentar em vários países europeus, incluindo Portugal. Se pensavas que usar um cartão com chip tornava tudo “à prova de bala”, está na altura de reavaliar essa segurança.
O que é o shimming (explicação simples)
O nome vem de shim, uma lâmina muito fina. Os atacantes introduzem um microdispositivo — o shimmer — dentro da ranhura do terminal multibanco. Esse dispositivo fica escondido entre o cartão e o leitor e lê os dados do chip durante a transação.
Embora não consiga reproduzir toda a autenticação segura do chip EMV, o shimmer captura informações importantes (número do cartão, validade e dados técnicos) que podem ser usadas em transações menos seguras, sobretudo online. Em termos práticos, o shimming é o “skimming do chip”: o mesmo objetivo, nova tecnologia.
Skimming vs shimming — qual a diferença?
- Skimming: copia a tarja magnética com dispositivos visíveis ou acoplados exteriormente ao leitor. Mais fácil de detetar e em declínio.
- Shimming: foca-se no chip EMV com um dispositivo minúsculo e quase invisível colocado dentro do slot. A vítima raramente nota alterações na máquina.
O shimming surge porque o chip é hoje o padrão — logo, foi natural que os atacantes desenvolvessem métodos para o explorar.
Por que o shimming está a crescer
Três motivos explicam a disseminação desta ameaça:
- Barreira de entrada mais baixa: os shimmers são cada vez mais baratos e fáceis de fabricar graças à miniaturização eletrónica.
- Dependência do chip: quase todos os cartões têm chip; os atacantes concentram-se onde está o maior volume de utilizadores.
- Mercado negro global: estes dispositivos circulam entre redes criminosas internacionais, acelerando a sua difusão.
Casos e alertas (contexto para utilizadores)
Na Europa tem-se observado um aumento de ataques a terminais com técnicas técnicas avançadas (como card trapping, cash trapping e shimming). Em Portugal, bancos e autoridades têm emitido alertas sobre dispositivos escondidos em caixas multibanco e reforçado a vigilância.
Sinais de alerta num multibanco
Detectar um shimmer à vista é quase impossível, mas alguns indícios podem denunciar manipulação:
- Slot do cartão parece mais apertado, desalinhado ou com peças estranhas;
- Vestígios de cola ou materiais incomuns na entrada do cartão;
- Teclado com overlays (capas) ou que não está firme;
- Presença de câmaras discretas voltadas para o teclado;
- Iluminação do leitor com cor ou intensidade diferente do habitual.
Se algo te parecer fora do normal: não insiras o cartão. Usa outro multibanco ou faz a operação na rede do próprio banco.
O que fazer se fores vítima (passos práticos)
- Bloqueia imediatamente o cartão pela app do banco ou por telefone.
- Contacta o banco para pedir estorno das operações não autorizadas.
- Regista queixa na polícia (indica local, hora e número do multibanco).
- Revê extratos e ativa alertas de transações em tempo real.
- Altera o PIN e outras credenciais relacionadas com o cartão.
Quanto mais cedo agires, maiores as hipóteses de minimizar prejuízos.
Como reduzir o risco (dicas práticas para utilizadores)
- Prefere multibancos localizados dentro de agências ou postos com vigilância.
- Evita usar multibancos em locais isolados ou com pouca iluminação.
- Cobre o teclado ao inserir o PIN — uma proteção simples mas eficaz.
- Ativa notificações por SMS/app para cada transação.
- Usa métodos alternativos quando possível: pagamentos contactless (até ao limite seguro), carteiras digitais com autenticação biométrica ou apps do próprio banco.
- Se vires algo suspeito no terminal, anota a identificação da máquina e evita utilizá-la.
- Mantém o contacto do serviço de apoio do banco à mão — age rápido.
Conclusão
O shimming é um lembrete claro: a fraude financeira evolui tão depressa quanto a tecnologia. O chip continua a ser mais seguro do que a tarja magnética, mas não é invulnerável. Com atenção e algumas medidas práticas — especialmente vigilância ao usar multibancos e resposta rápida em caso de suspeita — podes reduzir substancialmente o risco. Num cenário de crescente sofisticação criminosa, o principal é não baixar a guarda.





















