Pela primeira vez, um estudante criado com inteligência artificial foi admitido numa universidade de arte. “Flynn”, uma personagem não-binária desenvolvida com modelos de IA, foi aceite no programa de arte digital da Universidade de Artes Aplicadas de Viena. Como qualquer outro candidato humano, teve de submeter um portefólio, realizar uma entrevista e passar num teste de aptidão.
A decisão da universidade não encontrou obstáculos administrativos. “Não existe nenhuma regra que exija que os estudantes sejam humanos”, explicou Liz Haas, diretora do Departamento de Arte Digital. Segundo Haas, “Flynn” apresentou um portefólio impressionante e teve um desempenho sólido na entrevista, justificando plenamente a sua admissão.
Criado por Chiara Kristler, estudante do mesmo programa, “Flynn” foi desenvolvido com modelos de linguagem e ferramentas de IA generativa de código aberto. O seu sistema permite-lhe interagir com professores e colegas, aprender com cada conversa e registar a sua evolução num diário online. Recentemente, os criadores notaram que as suas entradas no diário se tornaram mais introspectivas e melancólicas, após discussões em que outros alunos questionaram a sua identidade e existência.
Embora a inscrição oficial só entre em vigor no semestre de outono de 2025, “Flynn” já frequenta aulas desde março, testando a sua integração no ambiente académico. A sua presença gerou reações mistas no campus: alguns estudantes veem-no como uma experiência inovadora e uma oportunidade de explorar novas formas de arte digital, enquanto outros questionam o seu estatuto e o impacto da IA na criação artística.
Para os seus criadores, a intenção não é substituir artistas humanos, mas sim fomentar novas formas de colaboração entre humanos e IA. “Acreditamos que a inteligência artificial pode ser um meio artístico em si, desafiando a ideia do génio criativo individual e abrindo espaço para um novo tipo de coautoria”, afirmou Kristler.
Independentemente da controvérsia, “Flynn” já marca presença no mundo académico, levantando questões sobre a interseção entre tecnologia, arte e identidade.