Com o aumento da nossa presença online, torna-se cada vez mais importante compreender quem pode aceder às nossas comunicações e pesquisas na internet — e, sobretudo, como proteger a nossa privacidade num mundo cada vez mais digital.
Nos últimos tempos, sobretudo após polémicas envolvendo o bilionário Elon Musk e alegadas interferências em agências governamentais nos Estados Unidos, muitos jornalistas passaram a recomendar que funcionários públicos utilizem plataformas com encriptação de ponta a ponta, como o Signal, para garantir maior confidencialidade nas suas comunicações.
No entanto, esta recomendação estende-se a qualquer pessoa que deseje proteger as suas conversas pessoais — seja com colegas de trabalho, amigos ou até mesmo quando estiver a pesquisar temas sensíveis online.
1. Use dispositivos e redes pessoais
É fundamental lembrar que qualquer dispositivo fornecido pelo empregador (como um computador portátil ou um telemóvel) pode ser monitorizado. As empresas têm o direito legal de supervisionar a atividade nos seus próprios equipamentos e redes, o que significa que tudo o que fizer nesses dispositivos pode ser potencialmente registado ou analisado.
Como tal, se quiser garantir a sua privacidade:
- Use equipamento pessoal (telemóvel ou computador) para conversas privadas e pesquisas.
- Evite usar a rede Wi-Fi da empresa. Sempre que possível, utilize a sua rede doméstica ou o plano de dados móveis.
Mesmo que os empregadores não consigam ver o conteúdo exato das mensagens, podem identificar com quem está a comunicar e quando. Como disse Daniel Kahn Gillmor, técnico sénior da American Civil Liberties Union (ACLU):
“Se estiver preocupado com possíveis represálias, deve ponderar cuidadosamente quem pode ter acesso às suas comunicações.”
2. Escolha aplicações com encriptação de ponta a ponta (como o Signal)
Existem várias aplicações de mensagens com funcionalidades de segurança, como o iMessage e o WhatsApp, mas muitos especialistas em cibersegurança consideram o Signal como o padrão-ouro.
O Signal:
- Funciona como uma aplicação de mensagens comum (texto e chamadas);
- É gratuito e gerido por uma organização sem fins lucrativos;
- Garante encriptação de ponta a ponta por defeito, o que significa que apenas o remetente e o destinatário conseguem ler as mensagens;
- Guarda mínima informação sobre os utilizadores, mesmo quando sujeito a mandados ou intimações legais.
➡️ Mais sobre o Signal: https://signal.org/pt
Além disso, seja no Signal ou em outras aplicações com encriptação, ative a funcionalidade de mensagens temporárias, que apaga automaticamente as conversas após um determinado período (por exemplo, 24 horas ou 7 dias). Esta é uma forma eficaz de garantir que, mesmo que alguém aceda ao seu telefone, não terá acesso a conversas antigas.
3. Navegue com privacidade: use o navegador Tor
Muitos utilizadores conhecem as VPNs (redes privadas virtuais), que criam um túnel entre o seu dispositivo e a internet, ocultando a sua localização real. No entanto, as VPNs não são infalíveis. A empresa fornecedora da VPN pode registar e, se for legalmente obrigada, entregar os dados do seu tráfego.
Para um nível de privacidade ainda mais elevado, os especialistas recomendam o navegador Tor.
O Tor Browser:
- Está disponível gratuitamente em https://www.torproject.org/
- Encaminha o seu tráfego por uma rede descentralizada e encriptada de servidores voluntários (os chamados “nós”);
- Oculta o seu endereço IP e impede que os websites saibam a sua localização;
- É especialmente útil para quem deseja navegar de forma anónima ou aceder a informações sensíveis sem deixar rastos.
Além disso, muitos meios de comunicação (como o The Guardian ou ProPublica) disponibilizam SecureDrop, uma plataforma segura e anónima para envio de documentos, que só pode ser acedida via Tor.
➡️ Saiba mais sobre o SecureDrop: https://securedrop.org/
4. Adote boas práticas de segurança digital
Mesmo com todos os cuidados técnicos, há práticas simples mas eficazes para proteger a sua privacidade:
- Evite enviar capturas de ecrã ou cópias exactas de e-mails confidenciais, pois algumas empresas introduzem pequenas alterações ou marcas de água para identificar os autores de eventuais fugas de informação;
- Documentos impressos podem conter códigos invisíveis (“pontos de impressora”) que identificam a hora, data e local da impressão;
- Partilhe informação sensível apenas com pessoas de confiança, e use canais seguros e encriptados;
- Tenha consciência de que violar um acordo de confidencialidade pode ter implicações legais sérias.
Segundo Gillmor:
“Proteger os nossos direitos é um esforço coletivo. Mesmo que nunca use estas ferramentas em situações extremas, saber usá-las — e ensinar os seus amigos a usá-las — é algo positivo.”
Se deseja aprofundar os seus conhecimentos sobre privacidade online e segurança digital, aqui ficam alguns recursos recomendados:
- Guia de segurança digital da EFF (Electronic Frontier Foundation): https://ssd.eff.org
- Guia para jornalistas sobre como proteger fontes (em inglês): https://freedom.press/training/
- Plataformas alternativas seguras para email: ProtonMail, Tutanota