No ambiente familiar, Mabel é uma avó carinhosa, sempre pronta para brincar com os netos e desfrutar dos pequenos momentos da vida. No entanto, no seu trabalho, enfrenta diariamente uma realidade angustiante. O seu papel exige que visualize e analise conteúdos “abomináveis” – como ela própria descreve – de abuso sexual infantil que circulam na internet.
Trabalha para uma das poucas organizações no mundo autorizadas a investigar ativamente este tipo de material, com o propósito de apoiar as autoridades policiais e as empresas tecnológicas na sua deteção e remoção. A missão é clara: impedir que estas imagens continuem a propagar-se e evitar que novas vítimas sejam expostas ou exploradas.
A Internet Watch Foundation (IWF), organização para a qual trabalha, ajudou a remover um número recorde de quase 300 mil páginas web no último ano, um aumento alarmante que inclui também imagens geradas por inteligência artificial (IA). Este novo fenómeno, que se tem multiplicado a um ritmo assustador, levanta sérias preocupações, uma vez que facilita a criação e disseminação de conteúdos de abuso infantil sem que haja uma vítima real identificável – um desafio acrescido para as autoridades.
“O conteúdo é horrível, nunca deveria ter sido criado”, afirma Mabel, que já trabalhou como agente da polícia e tem experiência no combate ao crime.
“Por mais anos que passe a fazer isto, nunca se torna mais fácil. Não se pode ganhar imunidade a algo tão cruel. No fim de tudo, o que está em jogo são crianças reais, vítimas inocentes. É algo revoltante.”
Mabel – nome fictício para proteger a sua identidade – é diariamente confrontada com algumas das imagens mais perturbadoras e chocantes que circulam na internet. O impacto psicológico deste trabalho é profundo e muitas vezes difícil de suportar, mas ela encontra motivação na sua própria família.
“O que me mantém firme é saber que, ao fazer isto, estou a proteger outras crianças, incluindo os meus netos. Penso sempre que, se fosse um dos meus, gostaria que houvesse alguém a fazer este trabalho.”
Natural do País de Gales, Mabel considera-se uma “disruptora” – porque impede que redes criminosas continuem a explorar e lucrar com a partilha de vídeos e imagens de abuso infantil. Embora a luta contra este tipo de crime seja exaustiva e, por vezes, pareça interminável, ela mantém-se firme na sua missão.
“A internet pode ser um lugar perigoso, mas também pode ser um lugar mais seguro se houver pessoas a lutar por isso. Sei que o meu trabalho faz a diferença – e isso, no final do dia, é o que mais importa.”